UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Homem que vens de humanas desventuras


Homem que vens de humanas desventuras, 
que te prendes à vida e te enamoras, 
que tudo sabes e que tudo ignoras,
 vencido herói de todas as loucuras; 

que te debruças, pálido, nas horas 
das tuas infinitas amarguras 
e na ambição das coisas mais impuras, 
e és grande simplesmente quando choras; 

que prometes cumprir e que te esqueces,
 que te dás às virtudes e ao pecado,
 que te exaltas e cantas e aborreces. 

 arquiteto do sonho e da ilusão,
 ridículo fantoche articulado, 
- eu sou teu camarada e teu irmão!

 (Autor: António Botto)

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