UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Síntese das Antíteses


Só temos consciência do belo, 
Quando conhecemos o feio.
Só temos consciência do bom, 
Quando conhecemos o mau. 
Porquanto, o Ser e o Existir, 
Se engendram mutuamente.
O fácil e o difícil se complementam.
O grande e o pequeno são complementares.
O alto e o baixo formam um todo.
O som e o silêncio formam a harmonia.
O passado e o futuro geram o tempo.
Eis porque o sábio age 
Pelo não agir, 
E ensina sem falar, 
Aceita tudo que lhe acontece 
Produz tudo e não fica com nada.
O sábio tudo realiza e nada considera seu.
Tudo faz – e não se apega à sua obra.
Não se prende aos frutos da sua atividade.
Termina a sua obra 
E está sempre no princípio 
E por isto a sua obra prospera.

(Autor: Lao Tse)

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