UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Se a nossa vida é menos que uma jornada...


Se a nossa vida é menos 
do que uma jornada
No infinito, se o ano quando reinicia
Nos leva os dias só deixando nostalgia,
Se qualquer coisa ao nascer 

já está condenada.

Com o que tu sonhas, minha alma aprisionada?
Por que te agrada a escuridão do nosso dia,
Se a fim de voar a mais brilhante moradia
Tu tens no dorso essa asa tão bem empinada?

Lá está o bem que todo espírito deseja,
Lá está o repouso que todo mundo almeja,
Lá o amor, lá o prazer também tem o seu canto.

Lá, ó minha alma, guiada ao céu mais altivo,
Reconhecerás ali o Ideal mais vivo
Da beleza, que neste mundo eu amo tanto.

(Autor: Joachim Du Bellay - Tradução de Ivan Justen Santana)

Nenhum comentário: