UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Amor sem Trégua


É necessário amar,
Qualquer coisa, ou alguém;
O que interessa é gostar
Não importa de quem.

Não importa de quem,
Nem importa de quê;
O que interessa é amar
Mesmo o que não se vê.

Pode ser uma mulher,
Uma pedra, uma flor,
Uma coisa qualquer,
Seja lá do que for.

Pode até nem ser nada
Em que ser se concretize,
Coisa apenas pensada,
Que a sonhar se precise.

Amar por claridade,
Sem dever a cumprir;
Uma oportunidade
Para olhar e sorrir.

Amar como o homem forte
Só ele o sabe e pode-o;
Amar até à morte,
Amar até ao ódio.

Que o ódio, infelizmente,
Quando o clima é de horror,
É forma inteligente
De se morrer de amor.

(Autor: António Gedeão)

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