UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 3 de novembro de 2012

Aerodinâmica



A tarde às vezes me convida
para um exílio nos campos
entre contornos de montes
ante o silêncio de uma ermida.

A uma luz inclinada

por um certo sopro de outono
às vezes a tarde me quer voo
em transparências de azul
por entre as nuvens à deriva.

A tarde, soberana, irreverente,

se esquece às vezes
que não tenho o descompromisso
das aves, que sou gente.

(Autor: Fernando Campanella)

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