UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A Perfeição



O que me tranqüiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão
absoluta.

O que for do tamanho
de uma cabeça de alfinete
não transborda
nem uma fração de milímetro
além do tamanho
de uma cabeça de alfinete.

Tudo o que existe
é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte
do que existe com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.

O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.

(Autora: Clarice Lispector)

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