UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

LIVRO: A Mecânica do Coração - Título original: La Mécanique du Coeur


Category:Books
Genre: Literature & Fiction
Author:Mathias Malzieu - Tradutores: Irene Daun e Lorena & Nuno Daun e Lorena

Sinopse: Edimburgo, 1874. Jack nasce no dia mais frio de sempre, com o coração... congelado. A Dr.ª Madeleine, a parteira (segundo alguns, uma bruxa) que o trouxe ao mundo, consegue salvar-lhe a vida instalando um mecanismo – um relógio de madeira – no seu peito, para ajudar o coração a funcionar. A prótese resulta e Jack sobrevive, mas com uma contrapartida: terá sempre de se proteger das sobrecargas emocionais. Nada de raiva e, sobretudo, nada de amor. A Dr.ª Madeleine, que o adota e vela pelo seu mecanismo, avisa: «O amor é perigoso para o teu coraçãozinho.»

Mas não há mecânica capaz de fazer frente à vida e, um dia, uma pequena cantora de rua arrebata o coração – o mecânico e o verdadeiro – de Jack. Disposto a tudo para a conquistar, Jack parte numa peregrinação sentimental até à Andaluzia, a terra natal da sua amada, onde encontrará as delícias do amor... e a sua crueldade.

Um conto de fadas para adultos, ao estilo de Tim Burton ou Lewis Carrol.

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"Quem nunca provou morangos com açúcar também não os pede para sobremesa." Pois é precisamente assim que me sinto depois de ler A Mecânica do Coração. Este é um autor que vou querer voltar a ler e não posso deixar de concordar com a citação da capa: Mathias Malzieu é mesmo um pequeno milagre literário!

A Mecânica do Coração conta-nos a história de Jack que, tendo nascido no dia mais frio do mundo, nasceu com o coração gelado e foi salvo pela Dr.ª Madeleine que lhe colocou no peito um relógio de cuco que passa a fazer funcionar o seu coração. A sua fragilidade fez com que fosse super protegido pela Dr.ª Madeleine, que o criou, e que o preveniu acerca dos perigos das emoções para o seu coração, especialmente o amor e a cólera. Mas nestas coisas do amor já se sabe, por mais que nos tentemos proteger, ninguém está livre de sofrer por amor e Jack acaba por se apaixonar, aos 10 anos (acham possível que alguém se apaixone de verdade aos 10 anos?) por uma pequena cantora de rua iniciando, assim, a sua incursão no mundo real e nos seus perigos e, em última análise, começando a crescer.

Esta é uma fabulosa fábula sobre as dores do crescimento, sobre o que custa deixar de ser criança, os sonhos e as verdades que julgamos absolutas, e tornarmos-nos adultos.

Adorei o texto do autor e concordo que o mundo por ele criado faz lembrar bastante o estilo de Tim Burton o que me deixa esperançosa numa futura adaptação cinematográfica deste livro.

Um outro pormenor que achei delicioso foi o fato de, tal como Forrest Gump, o protagonista se ter cruzado com personagens reais.

Em suma, é um pequeno livro que se lê rapidamente, mas que escolhi ler com calma para melhor o saborear...

Parabéns aos tradutores Irene Daun e Lorena e Nuno Daun e Lorena.

Recomendo.

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