UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Por que...



Por que me descobriste no abandono
Com que tortura me arrancaste um beijo
Por que me incendiaste de desejo?
Quando eu estava bem, morta de sono.

Com que mentira abriste meu segredo
De que romance antigo me roubaste
Com que raio de luz me iluminaste?
Quando eu estava bem, morta de medo.

Por que não me deixaste adormecida?
E me indicaste o mar, com que navio
E me deixaste só, com que saída.

Por que desceste ao meu porão sombrio
Com que direito me ensinaste a vida?
Quando eu estava bem, morta de frio.

(Autor: Francisco Buarque de Holanda)

Nenhum comentário: