UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Pedra Filosofal




  Eles não sabem que o sonho
  é vinho, é espuma, é fermento,
  bichinho álacre e sedento,
  de focinho pontiagudo,
  que fossa através de tudo
  num perpétuo movimento.

  Eles não sabem que o sonho
  é tela, é cor, é pincel,
  base, fuste, capitel,
  arco em ogiva, vitral,
  pináculo de catedral,
  contraponto, sinfonia,
  máscara grega, magia,
  que é retorta de alquimista,
  mapa do mundo distante,
  rosa-dos-ventos, Infante,
  caravela quinhentista,
  que é cabo da Boa Esperança,
  ouro, canela, marfim,
  florete de espadachim,
  bastidor, passo de dança,
  Colombina e Arlequim,
  passarola voadora,
  pára-raios, locomotiva,
  barco de proa festiva,
  alto-forno, geradora,
  cisão do átomo, radar,
  ultra-som, televisão,
  desembarque em foguetão
  na superfície lunar.

  Eles não sabem, nem sonham,
  que o sonho comanda a vida,
  que sempre que um homem sonha
  o mundo pula e avança
  como bola colorida
  entre as mãos de uma criança.

 (Autor: Antonio Gedeão)

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