UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O Portal Dourado

Diz uma lenda antiga que diante de todo ser humano 
existe um imenso Portal que conduz a felicidade plena. 
Nada impede a passagem de quem quer que seja. 
Não há guardas, nem porteiros, nem vigilantes. 
Passa realmente quem quiser.
O Portal realmente é lindo e conduz à felicidade, 

mas as pessoas não o utilizam da maneira que imaginamos
Primeiro, por não acreditarem, e, não acreditando, 

não tentam transpor o Portal.
E, segundo, por terem medo, muito medo do desconhecido, 

preferindo, até continuar vivendo mal, muito mal, 
a moverem um passo na direção de uma coisa melhor.
Por isso , o Portal fica ali, e aqui também, meio solitário, 

entregue àqueles que o conhecem e sabem do seu poder.
Existe também um tipo de medo muito antigo 

incrustado no ser humano, 
que é o medo de ser feliz, 
ou como é conhecido nos meios iniciáticos, 
o medo de comer a maçã de Eva.
Como sabemos, Eva perdeu o Paraíso 

ao não resistir a comer a maça do Éden... 
A leitura errada dessa parábola conduz 
a interpretações perigosas que geram no ser humano 
um medo de se "aprazeirar", confundindo prazer com pecado.
Por isso, ao intuir que transpassar o Portal Dourado 

conduzirá a felicidade plena, o ser Humano se bloqueia e não vai. 
Aos que passam o Portal Dourado só resta a felicidade, deles.
Nada sabemos a não ser que são felizes, vivem bem, numa boa.

Eles nos convidam a todo momento para transpor o Portal Dourado, 
nos acenam, nos chamam. 
Eles só não podem ir por nós.
Essa é uma decisão pessoal, intransferível. 

É como comer, dormir, ficar doente, acordar, morrer. 
Ninguém pode fazer no lugar do outro. 
Nem do filho, nem do pai, nem do irmão..
Ou você vai, ou você não vai.
(Autor Desconhecido)

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