UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Oração do Professor (II)

Dai-me, Senhor, o dom de ensinar,
Dai-me esta graça que vem do amor.


Mas, antes do ensinar, Senhor,
Dai-me o dom de aprender.


Aprender a ensinar
Aprender o amor de ensinar.


Que o meu ensinar seja simples,
humano e alegre, como o amor.
De aprender sempre.


Que eu persevere mais no aprender do que no ensinar.
Que minha sabedoria ilumine e não apenas brilhe
Que o meu saber não domine ninguém, mas leve à verdade.


Que meus conhecimentos não produzam orgulho,
Mas cresçam e se abasteçam da humildade.


Que minhas palavras não firam e nem sejam dissimuladas,
Mas animem as faces de quem procura a luz.


Que a minha voz nunca assuste,
Mas seja a pregação da esperança.


Que eu aprenda que quem não me entende
Precisa ainda mais de mim,
E que nunca lhe destine a presunção de ser melhor.


Dai-me, Senhor, também a sabedoria do desaprender,
Para que eu possa trazer o novo, a esperança,
E não ser um perpetuador das desilusões.


Dai-me, Senhor, a sabedoria do aprender
Deixai-me ensinar para distribuir a sabedoria do amor.

(Autor: Antonio Pedro Schlindwein)

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