UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Não Deixa

 
 Não deixa, meu sonho, que te apartem de mim!
Não deixa...
Que te assombrem malditos pecados...
Que te assustem caminhos tomados...
E te façam distante assim!
 
Não deixa, meu anjo, que te levem prá onde eu não vejo!
Não deixa...
Que me tornem um querer sem sentido...
Que façam de mim pobre anjo caído...
E me tirem o amor que eu desejo !
 
Não deixa, meu amor, que te afastem do meu caminho!
Não deixa...
Que minh'alma vague, tristonha, sem porto...
Que meu pesar, sem ti, não tenha conforto...
E afastem de ti meu carinho !
 
Não deixa, minha vida, que algum dia me perca de ti !
Não deixa...
Que os teus caminhos se afastem dos meus...
Que meus sonhos não sejam mais teus...
E seja amargo o sabor que senti !
 
Não deixa, meu coração, que te façam sentir-te culpado !
Não deixa...
Que te levem prá longe de quem te quer tanto...
Que destruam de tu'alma todo o encanto...
De um dia, quem sabe, teres me amado !
Não deixa...

(Autor Desconhecido)

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