UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Escadas do Tempo

Perdoa no mundo aquele que te espanta
Com o desprezo, a traição e a dor.
Vai ao florista e manda-lhe uma flor.
Prossegue a tua caminhada e canta.

Larga no tempo o pranto e o desamor,
Desata em calma o nó da tua garganta,
Sai da tristeza! Ergue-te! Levanta!
Lança-te ao novo, em festa e com vigor.

Apaga a mágoa toda do passado,
Tudo que nele houver de malogrado,
Abraça a vida, vai em frente e cresce!

Perdoa no mundo quem já te feriu,
Já que essa escada que ele um dia subiu
É a mesma escada pela qual se desce.

(Autora: Silvia Schmidt)

Nenhum comentário: