UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Destino


Na encruzilhada silenciosa do
Destino, quando as estrelas se
multiplicaram, duas sombras
errantes se encontraram.
 A primeira falou:
 - Nascí de um beijo de luz,
Sou força, vida, alma
e esplendor...
Trago em mim toda a
sede do desejo,
Toda a ânsia do Universo.
 Eu sou o Amor!
 O Mundo sinto enxague
em meus pés!
Sou delírio, loucura...
E tu, quem és?
 A Segunda respondeu:
 - Eu nasci de uma lágrima.
Sou flama do teu incêndio
que devora.
Vivo dos olhos tristes de quem ama,
Para os olhos nevoentos
de quem chora.
Dizem que vim ao mundo
para ser boa,
para dar do meu sangue a
quem queira.
 Sou a Saudade,
 A tua companheira,
que punge, que consola
e que perdoa...
 Na encruzilhada silenciosa
do Destino,as duas sombras
comovidas se abraçaram,
e, desde então,
nunca mais se separaram...

(Autor Desconhecido)

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