UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 5 de abril de 2009

QUINTA-FEIRA SANTA (SEMANA SANTA)


ORAÇÃO PARA QUINTA-FEIRA SANTA

Vós partireis dentro de poucas horas, mas não Vos esquecestes de nós e não nos deixareis órfãos. Com gestos singelos e carregados de grande simbolismo Vos despedistes de nós. E hoje, Convosco, celebramos Vosso adeus a todos nós! Deixai-nos recordar em Vossa presença estes gestos carregados de tão grande amor.

O gesto do lava-pés. Senhor, quantas vezes dissestes que o segredo da Vossa vida estava no serviço desinteressado que Deus presta aos seres humanos que criou. Deus ajoelhado diante de meus pés! Dá-me vontade, Senhor, de repetir como Pedro: “Jamais me lavarás os pés!”. Mas, Senhor compreende a grandeza e a importância deste gesto: “Se Tu não te lavar ,não terás parte comigo!” Compreendo então, Senhor, que deveis lavar-me. E compreendo também de que lavação se trata. Não é com água que me desejais lavar, é com Vosso Sangue! Compreendo finalmente, bom Jesus, que esta purificação se inicie no dia do meu batismo e se prolonga por toda a minha vida, através de Eucaristia que recebo.

Gesto da “Fração do Pão”. Dizem-nos os Evangelhos Sinóticos, que, nesta noite em que fostes entregue, tomastes um pão de última refeição com os Vossos. Quantas vezes Vos sentastes à mesa com grandes pecadores! Desta vez tomastes o pão, fruto da terra e do trabalho de nós homens e o divinizastes, fazendo que se transformasse em Vós. Tomou em Cálice com Vinho, ele também fruto do labor humano e o transformastes no Vosso sangue por nós derramado! Senhor, quantas vezes Vos comungueis em Vosso sacrifício! Mas, nesta noite, Vos suplico: Comungai-me também! Fazei com que se realize entre nós aquela misteriosa simbiose que define todo verdadeiro e grande Amor: que eu seja Tu e que Tu sejas eu!

Gesto da instituição do Sacerdócio Católico: “Fazei isto em memória de mim”.

Senhor sempre venerou Vossos ministros que sacramentalmente prolongam nas nossas comunidades Vossa presença de guia e Pastor. Aprendi também que existe uma analogia entre Pão e Vinho transformados em Vós e os Vossos ministros que sacramentalmente se transformam em Vós! Sei que a única diferença entre essas duas, “transubstanciações” esta no seguinte: enquanto Pão e Vinho cessam de serem tais, dissolvem-se em Vós nossos Sacerdotes, embora prolonguem nossa presença no meio de nós,não perdem suas entidades e personalidades!

Senhor, nesta noite de adeus, desejo sinceramente agradecer-Vos por Vossos ministros. E não excluo de minha gratidão nem mesmo aqueles que, tendo suas lanternas tão sujas, são incapazes de difundir a verdadeira Luz que sois Vós.

Gesto, finalmente, do amor fraterno e desinteressado. Obrigado, Senhor, por ter eu experimentado em minha vida alguns gestos desinteressados! Hoje compreendo que estáveis Vós por detrás de todos eles!

Senhor, numa sociedade pós-cristã e secularizada; numa sociedade em que os crucifixos desaparecem sistematicamente dos lugares públicos, numa sociedade que não conhece mais a batina ou o hábito religioso, embora o foulard islâmico seja sinal de forte pertença religiosa muçulmana, numa sociedade enfim, onde nada mais fala de Vós, nosso gesto cristão há de falar ainda. Talvez não tanto a linguagem do catecismo-ela faz tanta falta- mas a linguagem do Amor. Possa eu compreender, Senhor, nesta quinta-feira Santa, que esta linguagem será sempre atual; poucos a ela resistirão por longo tempo.

E já seremos bem-aventurados, porque- são palavras Vossas que soam hoje em meus ouvidos- “Há mais alegria em dar do que em receber?”.

Amém!

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