UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 4 de abril de 2009

QUARTA-FEIRA SANTA (SEMANA SANTA)


Jesus dizia: Perdoa-lhes, ó Pai, porque não sabem o que fazem... Ao ver a sua Mãe e junto dela, o discípulo que Ele amava, Jesus disse a sua Mãe: Mulher, aí está o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí a tua Mãe. (Lc 23, 34; Jo 19,26-27)

+ A cruz é uma cátedra donde Jesus prega a caridade, a paciência, a obediência, o sacrifício.
+ Senhor, gravai profundamente no meu coração estas lições dadas tão solenemente.

Oração indulgente e sentença misericordiosa

Mesmo na cruz Jesus esquece-se e não vive senão para nós, apesar da nossa indignidade. "Meu Pai, dizia, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem". Esta oração aplica-se a nós todos, a todos os pecadores.
Este grito exprime bem a infinita caridade, a infinita generosidade do Coração de Jesus: "Meu Pai, perdoai-lhes! Perdoai a todos os que me dão bofetadas, a todos aqueles que me ferem com chicotes ou com espinhos, a todos os que me desprezam e me escarram no rosto".

Jesus pede pelos pecadores, por mim, por nós todos que O crucificamos. Ele desculpa a nossa loucura, o nosso orgulho, a nossa sensualidade: "Eles não sabem o que fazem!"
Sim, Senhor, perdoai a estes vossos filhos ingratos, aos filhos da vossa Igreja que se mostram indiferentes ou perseguidores. Perdoai-me! Peço-vos as graças de arrependimento e de misericórdia às quais me dá direito a oração de Jesus Cristo.
Depois desta oração, Jesus perdoa ao bom ladrão. Este homem está humilhado e contrito. Pede misericórdia. Jesus pronuncia a sentença do perdão: "Hoje, estareis comigo no paraíso!" A cruz é santificante quando é aceite com humildade, como fez o bom ladrão.
União, portanto, a Jesus sobre a cruz. Paciência com Ele e resignação.

Maria nossa Mãe

"Mulher, aí está o vosso filho". Jesus formula as suas últimas disposições e como o seu testamento. Não quer morrer sem dar um último testemunho de amizade a Maria sua Mãe, a S. João, seu discípulo bem-amado e a nós todos na pessoa de S. João. Aí está o testamento do seu Coração. Dá a Maria um sustento, o apóstolo virgem e amante; a S. João e a nós todos uma Mãe. Estas palavras eram tanto um ato de desapego como um ato de caridade. Que sacrifício para Jesus e Maria! Naquele momento, nascemos como filhos de Maria. Maria disse o seu fiat, tal como o tinha dito para a sua maternidade divina. Ela aceitou-nos como seus filhos. Nós tomamos lugar no seu coração. S. João tomou imediatamente posse do seu legado precioso, tomou Maria como sua: Accepit eam in sua. Cabe a nós, como S. João, recolher o legado que nos é feito e de o pormos a render. Tomemos Maria por nossa Mãe. Honremo-la como tal. Amemo-la. Solicitemos os seus conselhos, os seus socorros, a sua proteção materna. Sejamos-lhe dedicados como S. João, propaguemos o seu culto, ganhemos-lhe filhos dedicados.

O abandono, a sede, o Consumatum est

Por volta da nona hora, Jesus gritou com voz forte: "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?" É a agonia do coração, o grito de extrema angústia: abandonado! É como o inferno, a pena de dano, a pena das penas para o condenado o qual, perdendo Deus, tudo perdeu.
Jesus exprimiu este lamento da sua natureza para escusar as nossas lamentações e os nossos desânimos, e para nos fortificar mostrando-nos que sofreu mais do que nós, Ele a inocência mesma, para expiar as nossas faltas em nosso lugar.
Ele quer ensinar-nos também a suportar a aridez, os desânimos, na paciência e na humildade.
Depois disto, sabendo Jesus que tudo estava consumado, para que a Escritura se cumprisse, disse: "Tenho sede". E deram-lhe vinagre numa esponja. Mas o que lhe oprimia mais, era a sede do coração, a sede de realizar o seu sacrifício, para cumprir a Redenção, a sede das almas, a sede de ser amado. Ele tem sede hoje do meu arrependimento, da minha conversão, da salvação dos pecadores. Que hei-de fazer para saciar esta sede?
Jesus diz ainda: "Tudo está consumado!", isto é: tudo o que pude fazer por vós, fi-lo. Dei tudo, tudo sacrifiquei, pela vossa salvação, por vosso amor, reclamo o vosso coração. Não tenho direito a isso? Tudo está consumado, tende confiança. A salvação foi-vos adquirida, basta que queirais aproveitar-vos dela. As fontes da graça estão abertas, a Igreja está fundada. O resgate está pago, tudo está pronto. Lançai-vos nestes braços abertos para a união da graça esperando a consumação da glória.
"Meu Pai, entrego nas vossas mãos a minha alma". É a última palavra de Jesus. Ele não sofre a morte. Depõe a vida para retomá-la. Ninguém lha pode arrebatar, é Ele mesmo que a entrega (Jo 10, 17). É a hora suprema do sacrifício do Redentor.

+ Resoluções - Senhor perdoe-me como ao bom ladrão; recomendai-me a Maria; dai-me a graça de cumprir como vós toda a minha missão, de cumprir tudo o que o vosso Pai celeste espera de mim. Coloco a minha alma nas vossas mãos para que vós a dirijais e a guardeis unida ao vosso divino Coração.

+ Colóquio com Jesus na cruz.

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