
Category: Books
Genre: Literature & Fiction
Author: Michel Foucault
O livro As Palavras e as Coisas, do pensador francês Michel Foucault, traça um quadro detalhado da mudança de ordenamento que ocorre no discurso ocidental no período que se estende do Renascimento até o final do século XVIII e início do século XIX (período que o pensador pontua como o tempo de efetivação da ideologia chamada de modernista). Foucault atravessa a História, na tentativa de cercar os elementos de significância que ilustram, a partir de seu entrecruzamento, os jogos de sentido que auxiliaram na reprodução da "epistême" moderna. A construção dos sistemas de articulação científica, sua maneira de ser e todo o enredo discursivo que contribuiu para a disseminação das representações das representações são objeto do trabalho arqueológico do pensador, que surpreende os mais ingênuos com a infância semântica do homem, objeto recente na história do saber. A diferenciação que se cria entre as chamadas "ciências humanas" e aquelas que recebem o rótulo purificado de "ciências exatas" é também analisada nesta obra, que se destaca por enxergar no aparecimento e no desenrolar do humanismo um elemento gerador de crise para o próprio discurso científico como um todo, e mesmo para toda a epistême moderna em todo o seu enquadramento. Michel Foucault inaugura, com As Palavras e as Coisas, uma nova metodologia para se fazer uma investigação de um problema filosófico: a arqueologia dos saberes. O grande fator de ineditismo desta forma de se fazer filosofia consiste na análise dos discursos e práticas das mais diversas áreas do conhecimento – mas de uma forma muito diversa das que se costumam fazer. O paralelismo com a arqueologia tradicional se dá pelo fato de o filósofo “cavoucar” não apenas, mas principalmente, nas entrelinhas destes discursos e práticas – como o arqueólogo escava seus sítios. Depois de garimpados e tendo sido feita a triagem das partes dos discursos e práticas de seus domínios próprios, que logo em seguida são peneirados e separados, e devidamente catalogados pelo filósofo, pode-se passar ao estabelecimento de uma articulação e interrelação entre seus diversos âmbitos de saberes, começando a constituir um cenário único e coeso, a despeito das naturezas várias dos quais se originaram – o que é igualmente semelhante ao trabalho do arqueólogo, quando este faz a triagem dos diversos pedaços de objetos diferentes que recolhe e que, sob um primeiro olhar, não se encontra nenhuma relação entre eles, mas que, a partir de uma análise desses fragmentos diversos, o arqueólogo consegue reconstruir – ou melhor, “reconstituir” ou “intuir” – uma configuração de mundo da qual esses objetos são oriundos. No caso de As Palavras e as Coisas, o que Michel Foucault vai procurar fazer para responder à questão da representação e conformação de saberes é estabelecer a instauração de seus sítios arqueológicos – ou seja, o campo onde vai buscar seus pressupostos e marcos teóricos e, é claro, suas premissas – nos domínios da Biologia (ou melhor, das Ciências Naturais), da Economia e da Linguagem, estabelecendo um intervalo histórico compreendido entre os séculos XV e XIX. Articulando, para este fim, discursos de pensadores proeminentes destas áreas no intervalo citado, como Adam Smith, Cuvier, Lamarck, Marx, entre outros. O texto deixa uma importante conclusão, em termos do processo histórico: para o homem, como sentido e como objeto de estudo, o período que se estende para trás do século XVII é apenas e tão somente uma pré-história, reticências prévias.
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