UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 1 de março de 2012

Valsa



Move-se, treme, anseia, empalidece,
Cai, agoniza: acaba-lhe nos braços;
Refolga, arqueja, torna, reaparece,
Solda-lhe o seio, a boca, as mãos, os passos..

Gira, volta, circula... Os olhos lassos
Tem langue, mole, voluptuosa prece:
A fronte branca ao colo dele esquece.
Atam-lhe as carnes invisíveis laços...

Na sala, a um vão, inquieto a vejo e a vejo!
Sofrer?! ... não sei... mas toma-me um desejo,
Ao ver um só nos dois, o grupo enleiado...

Rojar-me ao chão, à terra, de repente,
E nas voltas daquela valsa ardente
Morrer em baixo de seus pés calcado!

(Autor: Luiz Delfino)

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