UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 30 de março de 2012

Nosso Lar - Préfacio




A vida não cessa. A vida é fonte eterna
e a morte é jogo escuro das ilusões.
O grande rio tem seu trajeto, antes do mar imenso.
Copiando-lhe a expressão, a alma percorre
igualmente caminhos variados e etapas diversas,
também recebe afluentes de conhecimentos,
aqui e ali, avoluma-se em expressão e
purifica-se em qualidade, antes de encontrar
o Oceano Eterno da Sabedoria.
Cerrar os olhos carnais constitui
operação demasiadamente simples.
Permutar a roupagem física não decide o problema
 fundamental da iluminação, como a troca de
vestidos nada tem que ver com as
soluções profundas do destino e do ser.
Oh! caminhos das almas,
misteriosos caminhos do coração!
É mister percorrer-vos, antes de tentar
a suprema equação da Vida Eterna!
É indispensável viver o vosso drama,
conhecer-vos detalhe a detalhe,
no longo processo do aperfeiçoamento espiritual!...
Seria extremamente infantil a crença de que
 o simples "baixar do pano" resolvesse
transcendentes questões do Infinito.
Uma existência é um ato.
Um corpo - uma veste.
Um século - um dia.
Um serviço - uma experiência.
Um triunfo - uma aquisição.
Uma morte - um sopro renovador.
Quantas existências, quantos corpos,
quantos séculos, quantos serviços, quantos triunfos,
quantas mortes necessitamos ainda?
E o letrado em filosofia religiosa fala de
deliberações finais e posições definitivas!
Ai! por toda parte, os cultos em doutrina
e os analfabetos do espírito!
É preciso muito esforço do homem para ingressar
na academia do Evangelho do Cristo,
ingresso que se verifica, quase sempre,
de estranha maneira - ele só,
na companhia do Mestre, efetuando o curso difícil,
recebendo lições sem cátedras visíveis
e ouvindo vastas dissertações sem palavras articuladas.
Muito longa, portanto, nossa jornada laboriosa.
Nosso esforço pobre quer traduzir apenas
uma idéia dessa verdade fundamental.
Grato, pois, meus amigos!
Manifestamo-nos, junto a vós outros,
no anonimato que obedece à caridade fraternal.
A existência humana apresenta grande
maioria de vasos frágeis, que não
podem conter ainda toda a verdade.
Aliás, não nos interessaria, agora,
senão a experiência profunda,
com os seus valores coletivos.
Não atormentaremos alguém com a idéia da eternidade.
Que os vasos se fortaleçam, em primeiro lugar.
Forneceremos, somente, algumas ligeiras notícias
ao espírito sequioso dos nossos irmãos
na senda de realização espiritual,
e que compreendem conosco que
"o espírito sopra onde quer".
E, agora, amigos, que meus
agradecimentos se calem no papel,
 recolhendo-se ao grande silêncio
da simpatia e da gratidão.
Atração e reconhecimento,
 amor e júbilo moram na alma.
Crede que guardarei semelhantes valores comigo,
a vosso respeito, no santuário do coração.
Que o Senhor nos abençoe.

(Autor: André Luiz - Psicografado por Francisco Cândido Xavier)

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