UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 16 de março de 2012

Semeador de Beijos



Fiz do amor minha prece delirante
E da mulher a imagem do meu culto:
Lembrando aquelas de que fui amante,
Calo seus nomes, mas, fremente, exulto.

Bem no fundo do peito é que sepulto
As ilusões e as queixas de um instante.
Pecador indomável, nunca insulto
A primavera que já vai distante.

Sentindo a flama quase adormecida,
Apelo para uma última vitória,
E ardo e palpito em sonhos e lampejos.

Amei. Gozei todo o esplendor da vida,
E fui na terra, para minha glória,
Um opulento semeador de beijos!

(Autor: Osório Dutra)

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