UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 6 de dezembro de 2009

Oração do Advento

Senhor, eu te espero novamente.
Povoa de esperança o espaço que restou dentro de mim.
Enxuga a lágrima que ainda molha a minha face.
Ajuda-me a repartir os sorrisos que vingaram
neste espaço de barro que sou eu, e onde um dia semeaste a fé.
Repete este milagre de, embora divino,
caberes por inteiro no meu coração humano.
Volta para mim, desta maneira simples de chegar
E permanece comigo, ajudando-me a crer
que ainda é tempo de sonhar com a paz.
Senta-se à minha mesa e prova o pão do meu suor.
Caminha do meu lado para entenderes o meu cansaço.
Escuta meus anseios, para compreenderes minha luta.
Volta para mim, desta maneira simples de chegar.
Volta silencioso como a aurora e plenifica de luz o meu amanhecer.
Volta silencioso como a flor e perfuma de amor o meu desejo.
Volta para mim, desta maneira simples de chegar.
De minha parte, estarei te esperando
como terra seca, que procura orvalho;
como noite escura que procura luz;
como fonte imóvel que procura impulso.
Volta para mim, desta maneira simples de chegar.
E que te possa descobrir
em todos os presépios e casas,
em todas as manjedouras e berços,
em todas as Marias e Josés.
Autor: José Acácio Santana)

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