UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Poema de passar o domingo


 Num sol sem angustias
esquento a pele
abro os poros
abro as portas
entro eu e o sol
seus raios
expulsando o escuro
e abrindo a casa
aos meus passos de volta
e aos passos incipientes
do domingo


há poeira nos móveis
limpados a pouco
em suas curvas
há poeira em meus olhos
cerrados pela clara imposição
do sol, seus raios
pela fuga das sombras


caminho para dentro
enquanto o domingo
desenrola sua teia sobre
as costas indecisas deste vate
sobre os ombros impacientes do dia...


(Autor: Georgio Rios)

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