UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Degredo


Ó degredado ser que geme e chora,
Pelos cantos da vida, dolorido,
Ó desvalido ser que tanto implora,
Um mínimo de alento, um doce abrigo...

Dá-me tua mão, sem medo, vem comigo,
Repousa no meu ombro as tuas dores,
Esquece o exílio amargo e sem amigos,
Só eu posso avaliar os teus horrores...

Se sou samaritano ou cirineu,
Ou um anjo bom que atendeu-te as preces,
Esquece... que isto agora não importa!

Teu brado o universo percorreu,
E foi tão lancinante! Eu vim às pressas!
E eis que agora eu bato à tua porta!

(Serei o amor que nunca conheceste,
E a paz que, em toda a vida, não tiveste.
O pão pelo qual tanto suplicaste,
O abrigo que tu sempre mereceste.)

(Autora: Fátima Irene Pinto)

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