UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Castigo



Aqui jaz
Profano contumaz
Que nada sempre acreditou
E ficou preso à desditas
Cuspindo de forma injuriante
No pó, do qual foi moldado.
E assim, foi, durante quase uma vida.
Eis que a mão recai sua sandice
Fazendo-o curvar diante dos seus folguedos.
Mostra-se a ele, de forma verossímil
Rasgando sua carne
Deixando-o disforme
Tapando-lhe a boca
Que gritou tantas tolices!
Desde então, em total excomunhão
Paga o preço do seu desplante.
Arrasta-se em chaga
Sem ouvidos
E, calado, nos seus lábios
Que secaram cada palavra na garganta.
Morre em vida!
Arrastando-se feita ferida ambulante
Em total punição ao seu afronte.

(Autor: Marcos Sergio T. Lopes)

Nenhum comentário: