UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A lágrima do Céu


O céu deixou cair mimosa lágrima,
Que logo se julgou no mar perdida,
A concha a recolheu dizendo:"Agora
Serás a minha pérola querida.
Contra as vagas terás seguro abrigo,
Serena viverás sempre comigo.
Ó lágrima celeste ora em meu seio,
Tu és a minha dor, minha ventura!...
Permite, ó céu, que em doce e puro enleio
Eu guarde das tuas gotas a mais pura!"

(Autor: Friedrich Rückert - Tradução de B. Taveira Júnior)

Nenhum comentário: