UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Plenitude


Converso contigo,
mesmo no silêncio absoluto.
E à distância,
percebo teus anseios,
que chegam involuntários,
clamando aos meus ouvidos.
Faço do teu nada,
a razão da minha vida!
Sinto tuas dores,
que também são minhas.
Compreendo tuas mágoas,
em cada olhar trocado.
Rejubilo-me e canto
com todas tuas glórias
E sinto-me morrer
em cada instante,
que o desalento,
vem rondar tua alma.
Caminho contigo
por todas as noites.
Mergulho em teu abrigo,
sem ser percebida.
Entro no teu quarto,
imaginariamente,
para segurar tuas mãos,
enquanto dormes.
...E quando de mim,
não restar mais nada
e já me encontrar
no plano do descanso,
fixe o olhar na terra
que me abriga,
que me verás atenta
e condoída, a velar por ti,
por entre as flores mortas!

(Autora: Mazé)

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