UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Dia das Crianças



        Entre a inocência da infância 
e a compostura da maturidade, 
há uma deliciosa criatura chamada criança.
     Embora se apresentem em tamanho, 
pesos e cores sortidos, todas as crianças 
tem o mesmo credo: 
aproveitar cada minuto de todas as
horas de todos os dias
e protestar ruidosamente (pois o barulho
é sua única arma) quando seu último minuto 
é decretado e os adultos os empacotam e os colocam na cama.
     Crianças são encontradas em toda parte: 
em cima de, embaixo de, dentro de, subindo em,
balançando-se no, correndo em volta de, pulando para...
     As mães as adoram, irmãos e irmãs 
mais velhos assuportam, 
adultos as ignoram, o céu as protege.
     Uma criança é a verdade com o rosto sujo, 
a beleza com um corte no dedo,
a sabedoria com um chiclete no cabelo, 
a esperança do futuro com uma rã no bolso.
     Quando você está ocupado, 
uma criança é uma conversa fiada,
intrometida e amolante.
     Quando você deseja que ela cause boa impressão,
seu cérebro vira geléia ou ela se transforma numa 
criatura sádica e selvagem empenhada em
destruir o mundo ao seu redor.
     Uma criança é um ser híbrido: 
o apetite de um cavalo, a energia de
uma bomba atômica 
de bolso, a curiosidade de um gato, 
os pulmões de um ditador, a imaginação de um Julio Verne, 
o retraimento de uma violeta, o entusiasmo 
de um bombeiro e quando se mete a fazer alguma 
coisa é como se tivesse cinco polegares em cada mão.

     Gosta de sorvete, canivete, serrote, 
pedaços de pau, bichos grandes, dos pais, sábados, domingos
e feriados e mangueiras d'água.
     Não é partidária do catecismo, escola, 
livros sem figuras, lições de música, colarinhos, barbeiros, agasalhos, adultos e "hora de dormir".
     Ninguém se levanta tão cedo, nem chega tão tarde para o jantar.
     Ninguém se diverte tanto com
árvores, cachorros e mosquitos.
     Ninguém é capaz de colocar num só bolso:
um canivete enferrujado, uma maçã comida
pela metade, um metro e meio de barbante,
um saco plástico, dois chicletes, três moedas, 
um estilingue e fragmentos de substância ignorada.
     Uma criança é uma criatura mágica; 
você pode mantê-la fora de seu escritório,
mas não pode expulsá-la de seu coração.
     Pode pô-la fora da sala de visitas, 
mas não pode tirá-la de sua mente.
    Queira ou não, ela é seu captor, seu dono, 
seu patrão, um nanico, um saco de encrencas.
    Mas, quando, à noite você chega
em casa com suas esperanças 
e seus sonhos reduzidos a pedaços, 
ela possui a magia de soldá-los num segundo, 
pronunciando duas simples palavras: 
"alô papai, alô mamãe"...

(Autor Desconhecido)

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