UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Aval



Antes
quando as casas
tinham varandas
e a infância corria
entre jardim e quintal
viver, acreditem,
era bastante normal
e ser poeta não era
esse ofício mortal
de extrair uma flor
de uma pedra
de sal.

(Autora: Elza Beariz)

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