Toda a vida (ainda das coisas que não têm vida)
não é mais do que uma união.
Uma união de pedras é edifício.
Uma união de tábuas é navio.
Uma união de tábuas é navio.
Uma união de homens é exército.
E sem esta união tudo perde o nome e mais o ser.
O edifício sem união é ruína.
O navio sem união é naufrágio.
O exército sem união é despojo.
Até o homem (cuja vida consiste na união de alma e corpo)
com união é homem, sem união é cadáver.
Por mais alta que esteja a cabeça, se não está unida é pés.
Por mais ilustre que seja o ouro, se não está unido é barro.
Nobreza desunida não pode ser, porque, em sendo desunida,
logo deixa de ser nobreza, logo é vileza.
Para derrubar um reino e muitos reinos
onde há desunião não são
necessárias baterias,
não são necessários canhões, não são necessários
trabucos,
não são necessários balas, nem pólvora, basta uma pedra,
lápis.
Para derrubar um reino, e muitos reinos onde falta à união,
não são
necessários exércitos, não são necessárias
campanhas, não são
necessárias batalhas,
não são necessários cavalos, não são necessários
homens, nem um homem, nem um braço,
nem uma mão: sine manibus.
Não temos muito boas mãos e o sabem muito
bem nossos competidores, mas
se não tivermos união,
nem eles haverão mister mãos para nós.
Nem a nós nos hão de valer as nossas.
Feliz Natal!
(Autor: Padre Antônio Vieira - Sermão do Santíssimo Sacramento em Santa Engrácia, no ano de 1662)
(Autor: Padre Antônio Vieira - Sermão do Santíssimo Sacramento em Santa Engrácia, no ano de 1662)
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