UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Motivo



No coração
a palavra rumina
a indignidade do chumbo
que escurece as manhãs.

Com suas garras de luz
os versos que vingam
no deserto interior
anunciam o oásis
onde a linguagem sacia
a sede de sonhos.

Na manhã dourada
que se anuncia
entre um vento e outro

as estrelas mortas
ressucitarão na obscuridade da alma
reverberando um farol de mel
contra as varizes do desencanto
sepultando o latifúndio as noites.

Eis o poema

ponte dialética

entre a sintaxe do abismo
e a gramática dos silêncios.

(Autor: Ronaldo Cagiano)

Nenhum comentário: