UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Bálsamo Supremo


Como a estrela, a correr no firmamento,
Cai da ilusão em treva convertida,
 A esperança, a correr no pensamento,
Se envolve em treva e cai desiludida!...


Então o prazer, soprado pelo vento,
E a ventura em nevoeiro diluída,
Abandona o peito ao sofrimento,
Gravando na memória a dor sofrida.

E a alma anoitece. E quando passa o dia
Logo lhe esquece a luz de uma alegria;
Os anos passam... e não esquece a dor!...

Mas sempre, a alma, à desventura unida,
A dor ingênita a sofrer na vida,
Por bálsamo supremo __ tem o Amor!

(Autora: Maria Isabel da Câmara Quental)

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