UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 7 de outubro de 2012

Vozes


Vozes ideais e amadas
daqueles que morreram, ou daqueles que estão
perdidos para nós como os mortos.

Às vezes, em nossos sonhos, elas falam;
às vezes, em nosso pensamento, o espírito as percebe.

E, com seu sussurro, por um momento voltam
ecos da primeira poesia de nossa vida —
como, na noite, música longínqua que se extingue.

(Autor: Konstantinos Kaváfis)

Nenhum comentário: