UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 28 de outubro de 2012

Que Tristeza Sinto no Outono!

Que tristeza sinto no outono!
A folha seca que o vento me traz,
o cabelo desalinhado grudado na face,
a saia colada nas pernas,
e a flauta tocando ao longe
- em tons amarelo queimado -
me fazem outonar ainda mais. 

E chega a certeza,
muito mais, nesta época,
de que junto com as folhas secas
seguem a esperança, a segurança, o sorrir,
de alguém que já viveu muito e nada viveu;
De alguém desanimado diante da estrada. 

Ah! não consigo entender este sentimento
que me invade no outono...
Porque fico assim aberta, 
a espera, querendo mais? 

Esta é a época que todos 
os cheiros me invadem!
Todas as lembranças ficam vivas.
O sentimento da terra toma conta.
Amor outonal com desejo de p´ra sempre...

Busco o que poderia ter sido,
sonhos que ficaram esmaecidos;
lembranças equivocadas, transformadas
na ansiedade do que virá...
Dói-me a espera e o outono
de quem já se sabe, também, outonal. 

(Autora: Delasnieve Daspet)

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