UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Canção de Insônia

Na longa noite de insônia penso em ti:
meu amor se fez infantil e necessitado,
com a sofreguidão dos recém-nascidos.

Cada lembrança é uma emboscada
e a própria pele é um tecido
de minuciosas recordações.

Na longa noite de insônia,
escrever teu nome não traz sono,
mas descansa:
a saudade se deita na terra, quieta ao vento,
como quem se estende no campo, sob as estrelas.

(Autor: Odylo Costa Filho)

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