UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O que se é vem à flor?


Melhor seria não dizer-te nada
já que as palavras se frustram, Pessoa
- ai! onde as pás sutis e as virgens lavras
do ver de terna fala entre as criaturas?

Já que as palavras nos frustram, pessoas
perdidas no universo das palavras
- ai tempos de durames sem ternuras! -
melhor seria não dizer-te nada.

Calo. Do teu silêncio aflora a fala
desse verde essencial – cerne, mensagem,
viva raiz-mistério da linguagem.
Na força de não ter dito o que mais cala.

(Autor: Stella Leonardos)

Nenhum comentário: