UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 21 de outubro de 2012

Espuma de Barco


Para fazer um barco,
comprei a mais bela tábua de passar a ferro,
... que reforcei com as varetas de um velho guarda-chuva
e envolvi com três toalhas plásticas,
embebidas em cola de madeira.

Depois, lambi os dedos, fechei os olhos,
e reclinei-me a pensar no mar.  

Que as ondas e os caprichos da espuma e do sal,
trazemo-los já dentro de nós,
quando temos a coragem de respirar bem fundo.
(Autor: Fernando Franco)

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