UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 14 de outubro de 2012

Náufrago



eu fiz de tudo para acordar
na orla vazia de um novo dia
nadei o atlântico das manhãs
boiei bipolar pelas madrugadas
até o titã pavoroso das tardes
feri com braçadas fluidas e ávidas

pensei tantas vezes em me vencer
- só e veloz entre lentas calotas -
que quando notei já cruzara o ártico

(Autor: Adriano Wintter)

Nenhum comentário: