UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 14 de outubro de 2012

Tristeza


Esta tristeza que me envolve agora
Nem me deixa sequer pensar em mim...
Cai na terra o silêncio; e nesta hora
A minha dor vai descansar enfim.

O sol ao longe todo o céu colora
De nuvens cor de fogo e de rubi
E as árvores também, como quem ora,
Rumorejam nas sombras do jardim.

E no silêncio desta tarde linda
Paira na terra uma doçura infinda,
Asas leves de sonho e de agonia...

Morrem ao longe as nuvens incendiadas,
Quando o silêncio e a sombra de mãos dadas
Amortalham a luz, ao fim do dia...

(Autor: Anrique Paço d'Arcos)

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