UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 6 de outubro de 2012

Ciranda



Eu passei por aqui... Fico lembrando
um instante, uma hora de algum dia
onde o giro da vida, cirandando,
era festa de luz e de alegria.

Eu passei por aqui, feliz, cantando...
Mas, das lindas cantigas que sabia,
foram adormecendo, nem sei quando,
as palavras, o tom, a melodia.

O tempo segue, mas eu vou de volta
-a saudade por guia e por escolta –
aos caminhos azuis que percorri.

Ah! os longes da vida!... e as lembranças,
qual uma alegre ronda de crianças,
refazem a ciranda que perdi.
(Autora: Graciette Salmon)

Nenhum comentário: