UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 19 de novembro de 2011

Passa uma borboleta



Passa uma borboleta 
por diante de mim
E pela primeira vez 

no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor
nem movimento,
Assim como as flores 

não têm perfume nem cor.

A cor é que tem cor 

nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta 

o movimento é que se move,
O perfume é que tem perfume no
perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor.

(Autor: Alberto Caeiro)

Nenhum comentário: