UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Florestas



Que guardam as florestas pela noite?
Duendes, adivinhos, virgens loucas.
Repousos animais, leves respirações.
Olhares que só no escuro 

se perdem da cegueira.
Molezas e frescuras vegetais.

Trabalhos lentos, exatos,
de operários incansáveis.
Cumprida a noite,
as florestas preparam as vestes matinais.
Com os cuidados de mulheres antigas,
com véus de névoa encobrem a nudez.
E, quando o novo dia as visitar,
estarão serenas, hirtas,
cobertas dos seus verdes radicais.
Duendes, adivinhos,
virgens loucas são agora invisíveis, impalpáveis.
Tornam-se seivas, agulhas, frutos altos.
Obedecem ao vento.
São reais.
(Autora: Licínia Quitério)

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