UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Consolo



Era pra ti, tudo que havia em mim.
Pra ti guardava o melhor pedaço,
Era pra ti sempre o maior espaço.
Era pra ti toda flor do jardim.


Era tudo teu... acostumei-me assim.
Me contentava em seguir teus passos
E mesmo quando ao negar-me abraços
Me aquiescia pelo gesto, e fim.


Mas então vi que algo estava errado.
Pois todo meu esforço concentrado
Não era nada frente a teus caprichos.


Me libertei... se sou feliz não sei!
Mas pelo menos assim não verei,
Meus sentimentos aí pelos lixos!


(Autor: Jenário de Fátima)

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