UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Os Pássaros?



O sol renascia.
Bocejadamente abri a porta.
O horizonte se escondia atrás das árvores.

Entro no estábulo de folha
e alimento minha criação.
Do balde ao chão:
consoantes, dígrafos, cedilhas...

Comem caladas.
Levo duas ao colo e as embalo,
dou tapas nas costas, faço de tudo
mas não rimam.

Foi quando estranhei um estranho estranho ali parado.
Sem métrica para prendê-las,
todas voaram, cheias de sons pensados,
para seus olhos. 

(Autor: Fabio Rocha)

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