UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Ela é assim


Ela é assim! Pronto.
Mas assim como? Explica! 
Ela é assim um mix de tudo que se possa 
imaginar dentro de uma grande capacidade 
de apenas não ser nada em definitivo. 
Ela é aquilo que não consegue se encaixar 
em moldes pré-existentes, 
parece que ninguém nunca foi antes dela. 
Ela se incomoda com isso, às vezes, muito. 
Ela é cheia de sentimentos, parece que suas 
experiências se manifestam é no dorso do seu colo, 
e quase sempre, de vez em quando, tudo isso pesa. 
Mas não tem modo, não existe maneira 
que a faça ser diferente. 
E ainda, graças a Deus, ela é diferente. 
Algo que pesa e que tem o dom da leveza, 
algo que chora e que se manifesta em sorrisos, 
algo de forte, mas que se desmancha 
quando encontra a água.

(Autora: Clarice Lispector)

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