UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

terça-feira, 31 de março de 2009

Domingo de Ramos


Com o Domingo da Paixão ou Domingo de Ramos, dá-se início à Semana Santa. É nesta semana que a preparação para celebrar a Páscoa se torna mais intensa. No fim do longo itinerário quaresmal rumo à Páscoa, a semana santa começa a mostrar a riqueza do mistério pascal em vários dias, de conformidade com a história evangélica. "Neste dia, a Igreja celebra a entrada de Cristo em Jerusalém, para cumprir seu mistério pascal", o Cristo é reconhecido pelo povo como Messias, que vem realizar todas as promessas dos profetas. Todos os quatro evangelistas registram este evento e sublinham-lhe a importância. Assim, cumpre a profecia de Zacarias (Zc 9,9): "Dance de alegria, cidade de Sião; grite de alegria, cidade de Jerusalém, pois agora o seu rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento".

A origem do Domingo da paixão "in palmis" seria um costume popular do século V, em Jerusalém, que na tarde do Domingo fazia uma procissão solene para comemorar a entrada de Jesus na cidade. A procissão de palmas iniciava-se no Monte das Oliveiras em direção à cidade, imitando assim a entrada do Senhor em Jerusalém. O sucesso e a popularidade desta evocação comemorativa dão-se porque a comunidade revive, dramatiza, a cena evangélica da entrada de Jesus em Jerusalém lida no início, refazendo depois o percurso feito por Cristo. A procissão não estava ligada a uma celebração eucarística. No início do século VII esses costumes passaram do Oriente para a Espanha e a Gália. Somente no século XII que será aceita em Roma. A única procissão recordada pelo NT é a entrada de Jesus em Jerusalém (Mt 21,1-11; Mc 11,1-11; Lc 19, 29-40; Jo 12,12-19). O AT descreve quatro procissões extraordinárias: a tomada de Jericó (Js 6,1-16), o transporte da arca para Jerusalém ( 2Sm 6,12-19; 1Cr 15,25-16,3), a procissão de Neemias (Ne 12,27-43), e a de Judite (Jt 15,12-16,18). Todas têm como meta Jerusalém, onde termina com a oferta dos dons e dos holocaustos.•A entrada de Jesus em Jerusalém é a conclusão do ritual de uma peregrinação e como preâmbulo do sacrifício da cruz. (cf Lc 19,45).

O Messias apresenta-se com o aparato dos conquistadores, mas é montado num burrinho (como no cortejo que consagrará Salomão, 1Rs 1,33). As aclamações da multidão são extraídas do Sl 117,25s; a palma, que na mentalidade helenista tem significado de vitória (1Mc 13,51; Jo12,13; Ap 7,9), lembra as celebrações da festa dos tabernáculos, em cujos dias Israel imitava a caminhada pelo deserto. Durante esta procissão, Jesus chora sobre Jerusalém e dois dias depois pronunciará o seu discurso escatológico (cf. Lc 19,41-44).

O Domingo de Ramos é o 6º Domingo da Quaresma e ocupa um lugar de destaque no conjunto de 40 dias. Tem como finalidade: preparar imediatamente a Páscoa. Não faz parte do Tríduo Pascal, mas tem uma grande importância para a celebração da morte e ressurreição do Senhor, de modo especial pela comemoração da entrada do Senhor em Jerusalém. Esta celebração dá a tônica para toda a semana santa, especialmente para os últimos dias dela. Durante as cinco semanas da Quaresma, a Igreja se preparou: pela oração, pela penitência, pela caridade, pelos encontros de estudo e reflexão da Palavra, para a Semana Santa. Com este Domingo inicia-se a "Semana Grande".

Na liturgia, revivem e se revelam os dois aspectos fundamentais da Páscoa: a entrada messiânica de Jesus em Jerusalém e a memória da sua Paixão. Este é o único Domingo no qual se faz tal memória da Paixão do Senhor.

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