UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 28 de março de 2009

Deserto, silêncio, solidão


Deserto, silêncio, solidão. Para um espírito que compreenda a tremenda importância destes três elementos na caminhada espiritual, abrem-se inúmeras perspectivas e oportunidades de todos os lados, até mesmo nos congestionados labirintos e armadilhas que são as ruas das grandes cidades.
Mas, como pode alguém, na prática, ir ao deserto e conseguir a solidão? Parando! Pare! Deixe que a estranha e mortal inquietude do nosso tempo caia dos seus ombros, como um manto empoeirado e gasto – este manto que um dia, talvez, tenha sido considerado belo. A inquietude, o desassossego já foram considerados poeticamente como um tapete mágico e voador em demanda de um apressado amanhã. Hoje ele perdeu sua bela máscara poética e não passa de uma fuga de si mesmo, um desvio da jornada para dentro de si mesmo que todo homem deve empreender para encontrar-se com Deus nas profundezas de seu próprio coração.
Pare! Olhe bem no fundo das motivações que a vida lhe oferece. Elas são tais que possam constituir fundamentos para a santidade? Sim, porque, de fato, todo homem foi criado para ser santo, para amar o Amor que por nós morreu! Só existe uma tragédia na vida: a de não se ser santo! Se as motivações que sua vida lhe oferece não servem de fundamentos para santidade, então é preciso começar tudo de novo, até encontrar outras que sirvam. E isto pode ser feito. Deve ser feito. E nunca é tarde para tentar fazê-lo!
Pare! Levante a Deus as mãos e o coração, pedindo-lhe que a força do seu Espírito possa desfazer e levar embora todas as teias de temores, egoísmos, cobiças e muitos outros fios em que se enreda e se emaranha seu coração. Que as labaredas deste Espírito desçam até você, até todos nós, devastando o que foi mal construído e deixando coragem para reconstruir direito!
E todas estas paradas, nossas idas ao deserto, não necessariamente precisam ser feitas em um lugar retirado, mas podem também ser feitas em pleno barulho e plena atividade da vida diária de cada pessoa, qualquer que seja o seu estado de vida. São paradas que trazem ordem à alma, a ordem de Deus. E esta ordem divina trará consigo a tranqüilidade e a serenidade do mesmo Deus. E com ela virá o silêncio interior.

Nenhum comentário: