UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

terça-feira, 3 de abril de 2012

Foi assim




ontem mesmo, a primavera me habitava
em perfumes, texturas e matizes,
e eu me engalava de flores,
no meu papel de protagonista,
e me descuidava do vento,
me enxarcava nas águas,
me embebia dos gostos,
imorredouras paixões,
amores simples,
truques inocentes,
tudo motivo de risos,
tudo leveza de espírito,
voejar de asas pequenas,
céu baixo no chão...
ontem mesmo, as folhas tombaram,
em odores agri-doces,
o céu ficou tão inclemente,
os ares se adensaram,
com pesados sentimentos,
pesares e lamentos,
amargando os risos,
desprezando os riscos,
e os belos desafios
uniram-se às folhas do chão...

(Autora: Dora Vilela)

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