UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Bem-aventurados os aflitos



Bem-aventurados os aflitos
Que, chorando – não se desanimam,
Que, ofendidos – não revidam,
Que, esquecidos pelos outros – não olvidam 

os deveres que lhes são próprios,
Que, dilacerados – não ferem,
Que, caluniados – não caluniam,
Que, desamparados – não desamparam,
Que, acoitados – não praguejam,
Que, injustiçados – não se justificam,
Que, traídos – não atraiçoam,
Que, perseguidos – não perseguem,
Que, desprezados – não desprezam,
Que, ridicularizados – não ironizam,
Que, sofrendo – não fazem sofrer...

Até agora, raros aflitos da Terra conseguiram 

merecer as bem-aventuranças do Céu, 
porque, realmente, com amor puro somente 
o Grande Aflito da Cruz se entregou ao sacrifício 
total pelos próprios verdugos, 
rogando perdão para a ignorância deles 
e voltando das trevas do túmulo para socorrer e salvar,
 com sua ressurreição e com o seu devotamento, 
à Humanidade inteira. 


(Autor: André Luiz - Psicografado por Francisco Cândido Xavier)

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