UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Já não me importo



Já não me importo
Até com o que amo ou creio amar.
Sou um navio que chegou a um porto
E cujo movimento é ali estar.

Nada me resta

Do que quis ou achei.
Cheguei da festa
Como fui para lá ou ainda irei

Indiferente

A quem sou ou suponho que mal sou,

Fito a gente

Que me rodeia e sempre rodeou,

Com um olhar

Que, sem o poder ver,
Sei que é sem ar
De olhar a valer.

E só me não cansa

O que a brisa me traz
De súbita mudança
No que nada me faz.

(Autor: Fernando Pessoa)

Nenhum comentário: