UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 21 de abril de 2012

Escolhas



Não posso cantar as ruas,
não as vejo, nem demoro
nelas o meu sentido,
nem as céleres avenidas,
ou as mortes-auto-estradas
são meu percurso na vida.
Não enxergo as galerias,
bulevares e esplanadas,
deslizo por baixo das pontes,
sobrevôo os viadutos,
não passeio em passeios públicos,
e abomino os lugares comuns,
me fecho ante as vias todas
que me levam onde é prá ir.
Antes, as trilhas ceifadas,
cortadas nos canaviais,
os atalhos serpenteados,
as sendas dos vendavais,
na rota das ondas,
nas margens dos rios,
meus pés já me contam
o ansiado caminho.

(Autora: Dora Vilela)

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